Acabar com o silêncio sobre um assunto considerado proibido na sociedade é a melhor maneira para iniciar a prevenção. E foi esse o objetivo do 1º Simpósio de Prevenção ao Suicídio no Alto Vale do Itajaí, realizado na noite de terça-feira, 27 de setembro, em Rio do Sul. Cerca de 500 pessoas, entre estudantes, profissionais da área de saúde, professores e comunidade participaram do debate. O evento fez parte do Setembro Amarelo, mês destinado à conscientização sobre a prevenção no Brasil, que está em 7º lugar no mundo em ocorrências de mortes por suicídios.
A abertura oficial foi feita pelo psiquiatra, Ermilo José Soar, que por muitos anos dedicou-se ao trabalho de prevenção do suicídio no Alto Vale. Em seguida, o público assistiu apresentações de profissionais que atuam em diferentes setores da saúde. A primeira exposição foi com as voluntárias do Centro de Valorização da Vida (CVV) de Blumenau, Zita Darugna e Naura Schreiber, que falaram da necessidade em “perceber quem está ao nosso lado para identificar possíveis crises suicidas”. Elas explicaram como surgiu o CVV e como é o trabalho da instituição em facilitar o desabafo de forma sigilosa. Em breve Santa Catarina deverá ser contemplada com o número 188, para ligações gratuitas ao CVV, já que o estado é o segundo no ranking de casos de suicídio no país.
DE CADA 10 CASOS DE SUICÍDIO, 09 PODEM SER EVITADOS.
Em seguida o psiquiatra, José Eduardo Lobato D’Agostini, revelou estatísticas preocupantes. “Em um grupo de 100 pessoas, 17 já pensaram em se matar, cinco já fizeram um planejamento, três tentaram, e uma chegou a algum atendimento de pronto-socorro. Por isso a importância em procurar ajuda o mais cedo possível, pois o suicídio afeta todos ao redor”, salientou.
O suicídio na infância e na adolescência foi abordado pela psiquiatra, Mariana Celli. “Estes casos são mais difíceis ainda de entender e os pais precisam prestar atenção no comportamento dos filhos, deixando de lado a vergonha, a culpa ou o medo da exposição”, alertou. A médica orientou como os profissionais da saúde devem agir nestes casos. Os idosos também fazem parte dos grupos que precisam de maior atenção, segundo explicou o psiquiatra, Bruno Reis Braga. “A solidão na Terceira Idade é a maior causa de depressão, que leva a pessoa a desistir da vida”, esclareceu.
A CADA 40 SEGUNDOS UMA PESSOA COMETE SUICÍDIO NO MUNDO.
Mesmo com tantos fatores de risco, existem formas de proteção, e uma delas é o correto manejo dos pacientes, conforme detalhou a psiquiatra, Carolina Schiefelbein. “Em 50% das ocorrências a causa é a depressão, que pode ser tratada caso seja feito um diagnóstico e o tratamento”, ressaltou. Também faz parte da proteção manter uma rede de atendimento, segundo colocou o médico Luis Raphael Amazonas Ferreira. “Essa rede começa nas Estratégias de Saúde da Família, com o acolhimento inicial, e é completada pelos Centros de Atendimento Psicossocial (CAPS), Ambulatório de Saúde Mental, SAMU, Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e Pronto Socorro”, relatou o médico.
A CADA 45 MINUTOS UMA PESSOA COMETE SUICÍDIO NO BRASIL.
A proteção pode ser feita ainda com apoio psicológico, aliado à presença ativa dos familiares. “É necessário tratar também quem faz parte do círculo de convivência do paciente ou de quem cometeu suicídio. O psicólogo precisa também trabalhar em parceria com outros profissionais da saúde”, orientou a psicóloga Cíntia Adam. Ela explicou como está sendo desenvolvido o projeto de extensão “Bem Viver”, do curso de Psicologia da Unidavi, em turmas do Ensino Médio, na região, para levar informações e prevenir o suicídio.
Após as apresentações o público fez vários questionamentos. As doações coletadas como inscrição totalizaram cerca de 210 quilos de alimentos não perecíveis e 21 pacotes de fraldas geriátricas, que foram entregues para a Conferência São Vicente de Paulo, de Rio do Sul. O 1º Simpósio de Prevenção ao Suicídio no Alto Vale foi realizado por um grupo de voluntários que está implantando o CVV Rio do Sul, com apoio do CAPS, Hospital Samária, SESI, Unidavi e Associação Catarinense de Psiquiatria (ACP).
Debora Claudio